quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Luis Barbosa


Pouco mais de 6 da tarde de uma quarta-feira quente. O cenário é um campo de futebol precário na região central de São Paulo: terra batida em alguns cantos e grama alta em outros. Nem dá pra acreditar que o Estádio Nicolau Alayon pertence ao Nacional, um dos clubes mais tradicionais do Brasil. Dentro das quatro linhas, Botafogo e São Carlos fizeram um jogo tão ruim quanto o chão em que pisavam: empate em 1 a 1 na partida eliminatória da segunda fase da Copa São Paulo de futebol júnior. Pênaltis.

O goleiro negro do Botafogo, Luis Guilherme, pegou três cobranças dos adversários. O time carioca superou o paulista por 3 a 2 e se classificou. ‘Amarrado’ por fios, fones e uma parafernália eletrônica corri, após a última defesa, pra entrevistar o herói da partida: certamente mais uma entrevista de um garoto deslumbrado, já que além da Tv Brasil, outras duas emissoras transmitiam a partida para todo o país. O jovem arqueiro não perderia a chance de aparecer.

Aí que veio o melhor do jogo. Sim, o melhor momento da partida foi após a partida. Primeiro pelas minhas patacoadas: o cabo do microfone não chegava até onde o goleiro estava. Gritei frenética e ridiculamente para ele: “Venha até aqui...por favor, até aqui”.

Tranquilo, depois de atender outros jornalistas, Luis Guilherme caminhou até onde eu me encontrava. Com algumas várias vozes nos ouvidos (quem já fez reportagens ao vivo ou escutou duas emissoras de rádio ao mesmo tempo, sabe do que estou falando) comecei a entrevista perguntando quantos pênaltis ele havia agarrado. Deu-me um branco geral, afinal estava preocupado com o microfone, o fio, a distância... e, num lapso do tempo, o mais importante, a informação, foi-se de mim. Educadamente, o Luis Guilherme respondeu que havia pego três pênaltis, que estava cumprindo o trabalho dele e que o mérito era todo do grupo. Comecei a assustar-me!

Onde tanta calma e serenidade depois de uma verdadeira batalha? Um jogo nervoso, uma disputa de pênaltis. Qual a sua idade, indaguei: - Eu tenho 17 anos, respondeu o menino-homem que freqüenta as seleções brasileiras de base desde os 14 anos.
Percebi uma jóia rara ali. E emendei, de primeira: “Qual o seu ídolo? Júlio César, Dida, Tafarell?”

“- Olha, tenho respeito pelo Júlio César, pelo Dida, pelo Tafarell, mas meu grande ídolo é o Barbosa, da Seleção de 50. Não acompanhei ele jogar porque não era nascido, mas li toda sua biografia. É meu verdadeiro ídolo!”
Neste momento, meus olhos lacrimejaram. Somente os meus, porque o Luis Guilherme continuava ali, com o mesmo olhar sereno, o mesmo tom de voz e a verdade estampada na fisionomia. O menino acabava de surpreender com o nome de Barbosa, talvez a mesma surpresa que o goleiro tivera com o chute do uruguaio Ghiggia, no canto esquerdo do gol, em 1950, no Maracanã.

Massacrado covardemente por grande parte da imprensa e da torcida brasileira durante toda sua vida, Barbosa recebia, naquele momento, de um menino, negro como ele, excelente goleiro como ele, sua mais autêntica redenção!

“- Olha João ... você está de parabéns por essa declaração”. Sim, completamente aturdido pelo gigantismo do garoto Luis Guilherme, chamei-o João. Decerto minha mente associou-o a um João gigante como ele, talvez o João do Pulo. O Júlio César, “Uri Geller”, espetacular ponta esquerda do Flamengo de Zico, comentava a partida e foi na minha: “É o João Barbosa!”

Certamente que os erros de nome, fios e microfones ficaram menor perto da grandeza do Luis Guilherme. Ou melhor, do “Luis Barbosa”. Encerro este pequeno rabisco tomando emprestada a pena de um grande escritor, que assim como o Luis Guilherme, conhecia as virtudes do grande Barbosa:

Certamente, a criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro. Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Gighia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma maldição. E quanto mais vejo o lance, mais o absolvo. Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera.”
(Armando Nogueira)

Gaivões surpreendendo novamente


Recebi um email do Denis, diretor social da Gaviões da Fiel. O comunicado convocava a torcida para se cadastrar no comboio para a guerra. A guerra de solidariedade de São Luis de Paraitinga.


Vão sair vários ônibus da torcida e levar alimento, água, trabalho e solidariedade àquele povo sofrido. Detalhe: a corrente do bem da GAviões vai viajar a São Luis do Paraitinga no dia em que o Corinthians estreia no campeonato Paulista.


Porque a grande mídia não divulga este tipo de atitude?