sábado, 8 de janeiro de 2011

Grande Sertão Paulista II - Ipad, Willen e família


Capítulo 2

No caminho da sede da Tv Brasil, em São Paulo, até a vizinha cidade de Osasco, a 24 kilômetros da capital, o motorista de táxi, de nome Valdir, conversou:

- O Ipad vai substituir o livro.

- Será, Valdir? Será que pega...?

- Já pegou! É impressionante a facilidade dele. Você liga e já está conectado. Estou comprando um pra mim.

Essa fala do Valdir, sujeito simples, negro de traços fortes e fala tranqüila remeteu-me à revolução surda que a internet e os novos meios digitais de convergência estão fazendo. Não há mais barreiras.

Mas Osasco é coladinho em São Paulo e abortei os pensamentos de transmídia. Era hora da bola rolar. E como rolou.

O Vasco fez um, dois, três....sete gols pra cima do fraco Linense. Fraco até no tamanho. Comentei, durante a transmissão, que era visível a diferença de porte físico entre os jogadores das duas equipes.

Willen, camisa 9 da equipe da Cruz de Malta, antes do jogo, pediu-me: - Por favor, meu nome é U- i- lli- en. Pronuncia-se com “U”. Está todo mundo falando errado!!

Gostei do abrasileiramento que o garoto defendeu. Gostei mais ainda dos dois gols que fez na goleada vascaína. Mas o que, definitivamente, fez-me gostar do U- i- lli- em foi a comemoração do garoto ao fim do jogo. Foi até o alambrado, encontrou-se com a família, que viajou do Rio de Janeiro para Osasco para acompanhá-lo! Havia faixas, cartazes e toda sorte de badulaques de incentivo ao menino. Recebeu beijo da mãe, namorada, gritos de guerra dos amigos. Tudo, devidamente registrado pelo olho da Tv Brasil, ao fim da transmissão.

Uma história bacana. Digna de ser escrita e publicada num Ipad. Vou passar para o taxista Valdir.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Grande Sertão Paulista: Elias



Nonada. Assim o mineiro João Guimarães Rosa inicia Grande Sertão: Veredas, grandioso romance da literatura brasileira. Já li algumas vezes o Grande Sertão e a tradução mais próxima que cheguei de “Nonada” é algo como “não e nada”.

Nada se enxergava no gramado da moderna Arena Barueri. Ainda na transmissão, pouco antes das torrentes de água caírem, anunciei:

- Neste momento caem alguns pingos d´água, mas daqui a pouquinho virá um dilúvio.

E assim foi. Choveu muito no segundo- tempo. Choveram também os gols. Foram quatro embaixo de chuva, complementando o placar do primeiro tempo (que havia terminado 4 a 0 para o Corinthians) em 7 a 1 para os alvinegros contra os bravos meninos de Cáceres, do pantanal do Mato Grosso.

Não. Não foi a goleada que me chamou atenção. Foi Elias, autor do quarto gol corintiano. Entrevistei-o dois dias antes para uma reportagem da Tv Brasil. Menino simples, voz tranqüila. A gente que é repórter conhece o entrevistado atrás das câmeras. Porque na frente todo mundo é bacana, não é?

E Elias ficou proseando comigo depois da entrevista. Combinei com ele de entrevistá-lo na partida. Ele contou-me um pouco de sua história de vida. Cativou-me o Elias.

E Elias fez um golaço. Viu o goleiro adiantado e não teve dúvidas. Encheu-se da certeza dos grandes e encobriu o arqueiro da Cacerense. É isto mesmo, gol de gente grande, gol de craque, golaço, já pra entrar na história desta competição. Nonada.

O que me chamou a atenção mesmo foi o choro de Elias, compulsivo, quando viu seu companheiro de time, Ângelo, caído ao chão. Logo no início do jogo, com a vontade de quem quer ganhar o mundo, o menino corintiano disputou a bola de cabeça com Fernando, do Cacerense. Na verdade, foi uma disputa de cabeça com cabeça. Ali, perto do gramado, fiquei olhando a cena desde o começo. O choque, a queda, as pernas tremendo na convulsão de Angelo, o time rodeando, o médico chegando, a ambulância não chegando. Tudo era cenário de desespero.

Elias, no cenário. Saiu correndo para a beira do gramado – não queria ver o amigo convulsionar-se – chorou acolhido pelos outros companheiros. Depois, chorou mais. E mais. O jogo recomeçou. O Corinthians fez um, dois, três...e Elias fez aquele quarto gol de cobertura. Na saída para o intervalo, fui entrevistá-lo, conforme combinado dias antes. Ao final da conversa, ainda disse a ele:

- O Angelo está bem, falamos com o médico agora, fique tranqüilo.

-Que alívio. Graças a Deus, .

E citando Guimarães outra vez, que Deus venha armado quando vier, porque nunca vi tanta chuva, choro, gols e Elias como nesta quarta-feira, em Barueri. Nasceu um ídolo.