quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Grande Sertão Paulista: Elias



Nonada. Assim o mineiro João Guimarães Rosa inicia Grande Sertão: Veredas, grandioso romance da literatura brasileira. Já li algumas vezes o Grande Sertão e a tradução mais próxima que cheguei de “Nonada” é algo como “não e nada”.

Nada se enxergava no gramado da moderna Arena Barueri. Ainda na transmissão, pouco antes das torrentes de água caírem, anunciei:

- Neste momento caem alguns pingos d´água, mas daqui a pouquinho virá um dilúvio.

E assim foi. Choveu muito no segundo- tempo. Choveram também os gols. Foram quatro embaixo de chuva, complementando o placar do primeiro tempo (que havia terminado 4 a 0 para o Corinthians) em 7 a 1 para os alvinegros contra os bravos meninos de Cáceres, do pantanal do Mato Grosso.

Não. Não foi a goleada que me chamou atenção. Foi Elias, autor do quarto gol corintiano. Entrevistei-o dois dias antes para uma reportagem da Tv Brasil. Menino simples, voz tranqüila. A gente que é repórter conhece o entrevistado atrás das câmeras. Porque na frente todo mundo é bacana, não é?

E Elias ficou proseando comigo depois da entrevista. Combinei com ele de entrevistá-lo na partida. Ele contou-me um pouco de sua história de vida. Cativou-me o Elias.

E Elias fez um golaço. Viu o goleiro adiantado e não teve dúvidas. Encheu-se da certeza dos grandes e encobriu o arqueiro da Cacerense. É isto mesmo, gol de gente grande, gol de craque, golaço, já pra entrar na história desta competição. Nonada.

O que me chamou a atenção mesmo foi o choro de Elias, compulsivo, quando viu seu companheiro de time, Ângelo, caído ao chão. Logo no início do jogo, com a vontade de quem quer ganhar o mundo, o menino corintiano disputou a bola de cabeça com Fernando, do Cacerense. Na verdade, foi uma disputa de cabeça com cabeça. Ali, perto do gramado, fiquei olhando a cena desde o começo. O choque, a queda, as pernas tremendo na convulsão de Angelo, o time rodeando, o médico chegando, a ambulância não chegando. Tudo era cenário de desespero.

Elias, no cenário. Saiu correndo para a beira do gramado – não queria ver o amigo convulsionar-se – chorou acolhido pelos outros companheiros. Depois, chorou mais. E mais. O jogo recomeçou. O Corinthians fez um, dois, três...e Elias fez aquele quarto gol de cobertura. Na saída para o intervalo, fui entrevistá-lo, conforme combinado dias antes. Ao final da conversa, ainda disse a ele:

- O Angelo está bem, falamos com o médico agora, fique tranqüilo.

-Que alívio. Graças a Deus, .

E citando Guimarães outra vez, que Deus venha armado quando vier, porque nunca vi tanta chuva, choro, gols e Elias como nesta quarta-feira, em Barueri. Nasceu um ídolo.

3 comentários:

Paula disse...

Oi Rodrigo
Pelo post... nada como voltar por cima... não pude acompanhar o jogo ontem fiquei só sabendo da vitória. Mas me senti dentro do estádio com seu texto me deu até um desespero no relato do desmaio.

Surgi um novo Elias no Corinthians, só espero que os dirigentes não deixem este sair tão cedo.
bjs

Anônimo disse...

Oi Rô. Nossa, como seu blog cresceu! Gostei muito do que li, apesar de pouco entender futebol. Suas palavras, agraceadas por sua sensibilidade, me fazem querer saber mais. Voltarei. Um beijo e parabéns!
Mayra

Nanci disse...

Olá Rodrigo!

Amo esportes, mas confesso que futebol não me atrai...
No entanto, crônicas assim me fariam acompanhar o esporte sem nenhum esforço.Sua sensibilidade, sua veia poética e, sobretudo, seu amor pelo futebol, fazem dessa leitura um deleite.

Beijo.