sábado, 12 de abril de 2014

Pra não dizer que não falei das flores

Hoje, aniversário de 64 anos da Ferroviária, deixo um texto do Lourenço Diaféria escrito em janeiro de 68, quando a Ferrinha fazia 18 anos de idade e era campeã do Interior pela primeira vez.
Curiosamente, há 18 anos estamos fora da primeira divisão.
Criei-me nos campos hoje inexistentes da Ferroviária e o texto abaixo permeou minha carreira, meu mestrado e meu livro.
Espero que todo mundo que viva a a Ferroviária de alguma maneira, o leia. E entenda, de uma vez por todas que para a entidade Ferroviária "o futebol não é um fim, é um meio."
Que os espíritos dos antepassados

ferroviários e afeanos desçam sobre vós.

Que simpatia!
“Juro por Deus que, se eu tivesse de canonizar um time de futebol e colocá-lo inteirinho nos altares como exemplo de virtudes, escolheria a Ferroviária de Araraquara sem pestanejar. Começa que é um quadro simpático. A simpatia de um clube não tem nada a ver com a boa ou má aparência de seus jogadores. Aliás, é bom que se diga, jogador de futebol costuma ser feio como briga de foice: uma ou outra exceção pelos verdes gramados serve apenas para disfarçar. No geral, jogador de futebol tem mais cara de assombração que outra coisa. Está certo: um bom beque de espera só impõe respeito quando arma carranca. E ponta que dribla dando risada não presta. Acontece que jogador de futebol se transfigura. Na hora do gol, todo atacante vira o próprio arcanjo Gabriel e o mais enfezado goleiro, quando recolhe a bola no ângulo, é um autêntico querubim recoberto de luz e ouro. Ou seja: qualquer craque de futebol, por mais hediondo que seja, mesmo vestido de lobisomem, durante a partida, em toda ela ou em parte dela assume uma beleza de Apolo sem namorada. Fica pois, claro que quando digo que a Ferroviária é um time simpático, quero dizer que até Drácula pode usar seu uniforme de glória, que cinco minutos depois, todas as moças da cidade estão aplaudindo o rapaz. A Ferroviária tem o espírito da simpatia.
Um clube que usa a poesia de um estádio da Fonte Luminosa, um clube que cai e sabe se levantar sacudindo a poeira e os desgostos, um clube que ostenta uma dignidade que não se encontra em cada esquina nem da capital, nem do interior, esse clube tem tudo para se transformar em orgulho de uma cidade. Se eu fosse dono da praça Pedro de Toledo, nos feriados nacionais mandava hastear, ao lado do pavilhão brasileiro, a bandeira da Ferroviária.
Além de simpatia, a Ferroviária possui também a fortaleza dos times de bem, cultivando o futebol com carinho e serenidade. Para ela, o futebol não é um fim, é um meio. Um instrumento de afirmação, uma ferramenta de trabalho, pelo qual zela e do qual cuida. Fica, pois, em excelentes mãos (ou excelentes pés?) este troféu Folha de São Paulo.
Estamos, portanto, diante de um luminoso domingo, em que uma cidade em festa recebe o justo prêmio de seus esforços, mercê do trabalho inteligente da Ferroviária.
Certamente, até em Sé da Bandeira, no fim do mundo de Angola, há gente alegre com a conquista da Ferroviária.
Campeã do interior é um título que lhe cai otimamente.”

Nenhum comentário: