segunda-feira, 22 de março de 2010

Da pureza 3

O texto é velho. Publiquei-o a primeira vez quando o Dorival Junior chegou à semifinal do Paulista pelo São Caetano.
Depois, quando o Vasco arrancou rumo ao título da série B, tornei a fazê-lo presente.

Agora é o Santos, que ganha de 9 x 1.
O texto é velho, mas a pureza continua a mesma

"Vejo o Junior uma vez por ano. Seu Dorival, o pai, mora no Santana, pertinho da casa de meus saudosos avós maternos Dito e Niva. Quando é Natal ou outra data importante do ano, o pica-pau, apelido dele, pára pra prosear. Falamos de tudo: do seu trabalho como desenhista na Viana engenharia na Rua Expedicionários do Brasil, no São José, quando ainda cursava o técnico em agrimensura no Logatti. Ele pergunta por meu pai e tios, depois lembro do futebol dele na Ferroviária na década de 80. Palmeiras, Grêmio, Juventude e outros tantos. No fim do ano passado paramos naquela mesma esquina para conversar:

- Fui convidado para dirigir o Paysandu. O time está na série A do Brasileiro, mas vou agradecer e recusar. Formaram a equipe agora. Tudo na vida tem que ser feito aos poucos, por etapas – contou o Junior no seu tom sereno e tranqüilo. Resultado dessa conversa: o Junior foi dirigir o Sport Recife e terminou como campeão pernambucano e o Paysandu, sem Junior nenhum comandando, foi rebaixado para a segunda divisão.

Ultimamente, além da esquina da casa da vó, o Brasil está tendo a oportunidade de conhecer de perto o Dorival Junior . Todos os finais de semana, em rede nacional, nas principais emissoras de televisão do Brasil ou nos jornais da capital, todos se perguntam, assombrados, quem é esse rapaz que conseguiu aplicar, de uma só vez, um nó tático no Muricy Ramalho do São Paulo e outro no Santos, do inatingível Vanderley Luxemburgo.

O rapaz, técnico do time do São Caetano, é sobrinho do moço de Araraquara. O moço de Araraquara – expressão criada por Fiori Gigllioti - é o Dudu, médio-volante dos áureos tempos grenás e mágico da academia de futebol do Palmeiras dos anos 70.

Assim como o Dudu , o Junior é cria da Ferroviária. A classe que ele ostenta com as palavras – a mesma que, ao lado do tio, tratava a bola – certamente está relacionada com o fato de os dois terem surgido na Ferroviária.

Claro que a boa educação que Junior e Dudu receberam da família influenciaram suas trajetórias. Mas como disse o escritor Lourenço Diaféria em sua crônica Que Simpatia!, em 1968, `além da simpatia, a Ferroviária possui também a fortaleza dos times de bem, cultivando o futebol com carinho e seriedade. Para ela, o futebol não é um fim, é um meio. Um instrumento de afirmação, uma ferramenta de trabalho, pela qual zela e do qual cuida.`

Talvez seja também por isso que o treinador da Ferroviária, Édson Só, vem fazendo este trabalho primoroso na série A-3 do campeonato paulista. Deve também ser esta a exata explicação para o gol nos acréscimos do Leandro Donizete na vitória grená do último sábado.

O momento do Junior no São Caetano e da Ferroviária no Paulista da A-3 convergem para o mesmo caminho que fazia os grandes tremerem em Araraquara nas décadas de 60, 70 e 80. A locomotiva parece caminhar de volta aos trilhos. "

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